quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pior que as mulheres usarem saltos altos é as mulheres usarem sapatilhas...
E para cúmulo ficarem mais bonitas de sapatilhas que de saltos altos!
Porque diabo é que o mundo mudou?
Porque diabo é que as mulheres descobriram que tinham desejo além do desejo que posso sentir por elas?
Sim, porque é mesmo coisa do diabo...
Onde estão as mulheres, aquelas mulheres que realmente interessam, as maças que estão no topo da árvore, que zelam pelos seus maridos e pela sua casa?
Não, não é uma questão de misoginia....Há quem afirme a pés juntos que sim...Mas eu no fundo só queria que o mundo fosse igual ao dos livros da Anita...


O Macho Inconsolado.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O que fazer quando se devem mais que 100 milhões de euros a uma gaja?
Bem, tem que se arranjar uma maneira de não os pagar...
Entorpecer a gaja com manipulações mentais, inventar o mais que se possa inventar sobre a gaja para justificar não pagar, ameaçar a gaja...
Em último caso deve-se matar a gaja, já se sabe...
Um pequeno conto hardcore de Natal...
Um conto hardcore para nos recordar que felizmente a realidade é bem mais risonha que a ficção...
Beijinhos a todos e um Feliz Natal!

domingo, 27 de novembro de 2011

Ao descer a rua Bristol



Ao descer a rua Bristol
As I walked out one evening
por W. H. Auden, em 1937
(Tradução de Nelson Ascher)



Ao descer a rua Bristol
uma tarde, eu vi os demais
que eram como, antes da ceifa,
os já maduros trigais.

E ouvi junto ao rio, debaixo
da ponte da ferrovia,
um namorado cantando
como ele sempre amaria:

“Vou te amar, meu bem, até
que a África se junte à China,
que o rio salte a montanha
e salmões cantem na esquina.
Vou te amar até que o oceano
seque pendurado ao léu,
até que as Plêiades grasnem
quem nem os gansos no céu.

Anos fujam como lebres,
pois, nos braços, eu estreito
a Flor de Todas as Eras
e, entre amores, o perfeito.”
Mas, nas ruas, mil relógios
badalaram com alarde:
“Não confies nunca no Tempo,
Ele triunfa cedo ou tarde.

Nos desvãos do pesadelo,
onde a justiça está nua,
o Tempo espreita das trevas
e em teu beijo se insinua.

Em transtornos e ansiedade,
nossa vida esvai-se a esmo
e o Tempo há de impor-se a todos
amanhã ou hoje mesmo.

Neva em muitos vales verdes
e o Tempo reduz a nada
o arco que o mergulhador
descreve e a dança ensaiada.

Põe a mão até o pulso
dentro da água, na bacia,
pondera, ao fitar-lhe o fundo,
que tua vida foi vazia.

Desertos gemem na cama,
o armário acolhe o glaciar,
e a chávena leva à Terra
dos Mortos, ao se rachar.

Lá mendigo é perdulário
e o Gigante agrada a João,
anjinhos rugem ferozes,
Mariazinha dá no chão.
Olha bem, olha no espelho,
olha cheio de pesar:
viver é uma bênção, mesmo
que não possas abençoar.

Fica à janela conforme
ferve o choro assustador;
ama o próximo traiçoeiro
com teu coração traidor.”

Caía a noite, o casal
fora embora, a litania
dos mil relógios cessara
e, profundo, o rio corria.


O poema, narrado em inglês.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Poesia Sufi

O sufismo é uma corrente mística e contemplativa procedente do Islão, apesar de que não adopta extremismos religiosos.
Os sufistas procuram a proximidade com Deus e a iluminação através de meditação e da comtemplação do seu interior.
Para isto, é usada música, danças ou poesia.

Um dos maiores poetas Sufistas foi Rumi, mundialmente conhecido. Os seus poemas e contos ainda hoje inspiram a muita gente, mesmo de outras religiões.


Um Coração
por Rumi

Em cada coração há uma
janela para outros corações.
Eles não estão separados,
como dois corpos.
Mas, assim como duas lâmpadas
que não estão juntas,
Sua luz se une num só feixe.


sábado, 5 de novembro de 2011

Eu(s)

Desdobrei a minha Alma,
Qual peça de tecido, que no balcão se desenrola.
Dela saíram vários espíritos,
Várias "Personas", de vestes nuas,
De Almas vestidas...
Cada qual com sua ânsia,
Cada qual com a vaga Esperança.
Todas em desatino,
Todas em sintonia,
Umas parecidas comigo....
E as outras!....com quem seria?


Rui Magalhães Sarmento
Pra além de ti

A auréola revelou-se no vácuo.
O silêncio da noite atravessou o espaço
De átomos irrequietos de Ser.
Sons inaudíveis sussurraram no rodeio das sombras,
Vozes ténues que rebentam na luz....

Amo-te para além de Ti!.

Rui Magalhães Sarmento
Da janela do meu quarto


Da janela do meu quarto,
Vejo a cidade e o mato,
Uma nespereira e pinheiros,
mesmo ao lado candeeiros,


Quais estrelas mais próximas,
Iluminando a rua,
Da janela do meu quarto,
Avisto ao longe a tua.

Vejo ao longe um regato,
Da janela do meu quarto
Vejo videiras e flores,
Sinto cheiros e odores.

Quem em suave brisa chega,
Do Recanto dos Amantes
De tão pura atmosfera
Sob estrelas cintilantes.

Da janela do meu quarto,
Vejo tudo quanto quero,
Vejo-me a mim noutro tempo,
Vejo os outros e relembro,

Do sonho, o que é real,
Da vida, o que é banal,
Da realidade feita em sonhos,
Vejo o passar dos anos.

Da janela do meu quarto,
Vejo dias diferentes,
Vejo enfim outras coisas
Que são as mesmas que antes.

Como um país sem fronteira,
Vejo de outra maneira,
Nem longínquo horizonte,
Vejo um rio e uma ponte.

Nada me pode parar,
Nem sequer intimidar,
Sem caminho vou partir,
Sem pensar vou decidir.

Apenas irei chegar,
Onde a vida me levar,
Talvez até à tua rua,
E à janela que é tua.

Sem sair daqui, eu parto,
Comigo levo o Luar,
Sem daqui sair, viajo.
Sem partir, vou regressar.

Se vou p´ra longe, perdido,
Sinto saudade, por ficar,
De quem chegou sem ter partido,
De quem partiu, sem cá chegar!...

Rui Magalhães Sarmento
O Rio da minha Ponte

O Tempo é como um rio,
Que devagar vai correndo para o Mar,
Paciente, sem ter pressa de o ter,
Na certeza que seus, todos os rios são...
Talvez assimpara Deus todas as Almas irão...
Mas no Rio do Tempo,
Águas não voltam atrás,
Só nas nuvens regressam
Águas que o vento traz.
O rio parece o mesmo,
Águas da mesma Fonte,
Mas são sempre águas diferentes,
Parecidas às de ontem...
Talvez Almas Perdidas,
Em chuvas assim caídas,
Regressem de novo vivas,
Ao Rio da minha Ponte!


Rui Magalhães Sarmento
Longe de mim


Estou longe de mim,
Estou longe do mundo,
Estou longe de ti,
Estou longe de tudo.

Vejo os homens em Guerra,
Vejo a Paz, lá tão longe,
Vejo o tempo à espera
Que o amanhã seja hoje.

Penso absorto, prisioneiro em mim,
Liberto as Asas da Alma.
P´ra tão longe me levam,
P´ra tão perto de ti!...

E num voo sem Tempo
Serei livre eu,...assim?
Estarei mais perto, eu, ....de ti?


Rui Magalhães Sarmento
Que lindas que sois


De nada te valho,
P´ra nada presto,
Nada te dou,
Nada te empresto.
Tu, tudo me dás,
Sem nada quereres em troca.
Tu sempre lá estás,
Nunca bates com a porta.
Eu de nada te valho,
Nada tenho p´ra te dar,
Só o nada tenho
P´ra te sossegar!
Penso em nada...
Só o nada me consola,
Só o nada me abstrai...
E tu lá estás, sossegada,
Com a pequenina ainda acordada,
Bem cheiinha, bonita, rosada...
Esperas por mim, pela minha chegada...
Que lindas que sois!...


Rui Magalhães Sarmento
A Cruz


Gostaria de um dia,
Poder dizer que valeu a pena,
Que valeu o dano,
Tudo acontecer,
Sem esboço nem plano,
Sem mapa nem bússola,
Na busca de mim,
As ideias, o alento,
Sem hora nem tempo,
Apanhado em teias,
Inspirado na esperança,
De quem sempre alcança
Mais do que espera.
Sem nada querer,
Da quimera do sonho,
Realidade do ser,
Como folhas de Outono,
Entregues ao vento,
Na deriva do sonho,
Mas no sonho a viver,
O desespero ou alento
No inevitável fluir,
No implacável devir,
Do ser e não ser,
De compreender e sentir
Qual será o dever
De não largarmos a cruz
A meio do caminho
Mesmo que sempre
A carregues sozinho?....


Rui Magalhães Sarmento

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O meu rapaz

O mundo maravilhoso
Abriu as portas do meu sonho,
E tu entraste para a minha vida,
Desconhecendo os mistérios
Que te faziam meu.
Não sabendo nada sobre ti,
Conhecia a felicidade das nossas gargalhadas,
E apetecia-me dizer-te
Que fazias parte de mim,
Mas deixei este lugar comum do amor
Para a minha paixão.
Portanto não te disse nada,
E ali fiquei a tomar um café contigo,
Rindo-me por dentro de felicidade,
Fingindo a minha ignorância.
Sentado à sombra da oliveira

Pele seca e morena,
De sucessivos estios no campo,
Desdobra o farnel de pano sujo,
Vendo à sua frente,
A faina de um ano.
Dedos velhos calejados,
Levam à boca o naco do descanso,
Enquanto os melões reluzem doirados,
Em ninho verde imposto pela rega.
A um gole de água,
As uvas, rendilhado de botões verdes,
Penetram no seu olhar.
Em cada pausa sob a oliveira,
Prepara a jorna contínua,
De domar a natureza no seu ciclo.
Falsa presa da opressão do homem,
É a natura cuja vontade encerra,
O fim de todas as suas labutas.
O monte florido

Abóbada de gema e púrpura,
Como uma mulher ornada,
Ergue-se para seduzir o avistamento,
Que encobre pela nossa fantasia.
Se trilhamos o caminho agreste,
Fito no pódio da conquista,
Descobrimos no alcance do olhar,
Não ser mais belo que os nossos pulmões caprinos,
No esforço da liberdade da trepada.
Gelha velha expulsa da crusta,
Fascínio da maturidade inerte sobre a vida,
Sempre jovem e caduca,
Que domina,
Com o véu da sua grandiosidade.
Verdade Pessoal

A verdade é uma teia de aranha,
Espiral da individualidade,
De fios corpóreos e incorpóreos,
Que concebemos como sentimos.
Coisas complicadas

Para quê falar de coisas complicadas?
A teoria das cordas parece-me coisa pouca,
Quando olho para os prazeres dos meus sentidos.
Não saberás que tudo o que percepcionamos
Existe sem o consentimento da nossa consciência?
Por isso deixa-te estar apenas ao meu lado,
Que o teu sorriso é a mais bela ideia luminosa.
Dedução dos afectos

Na balança do julgamento dos corações,
Entre o que é objectivo e o ambíguo,
As facções dos nossos afectos,
São pesos de massa tão relevantes,
Como a clareza dos acontecimentos.
Entendemos o que nos está próximo,
E condenamos o que está longe,
Do coração ou ideal.
Sem o cuidado de uma moral,
Bem e mal são presas dos afectos,
Onde somos tiranos ou santos,
Na ambiguidade da balança.
Humanidade

Perdidos entre o eterno e o caduco,
Somos semideuses de uma província,
Na qual o nosso espírito híbrido se insurge.
Da nossa vocação de criar mundos,
Da inquietação da nossa mortalidade,
Percorremos um caminho dúbio,
Em que a perfeição
Está na resignação primordial,
Ou na esperança renovada.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Tá Tá Bebé

O senhor rei da casa,
O senhor bebé,
Dá ordens a toda a gente,
E só sabe dizer tá tá.

Não é que seja autoritário,
Nem tão pouco genial,
Mas um anjo a existir,
Decerto que é igual.

Nunca vi este caso divulgado
Nos estudos de liderança,
Mas já se sabe que os doutores
Não levam a sério a graça.

Por isso tá tá bebé
Tudo seria mais bonito,
Se todas as razões que nos movem
Fossem as do teu sorriso.

Elisa Sampaio
Ralho das Mulheres a um Homem bonito

Como podes tu,
Sabendo-te tão bonito,
Deixares o nosso coração,
Neste estado tão aflito?
O que vamos nós fazer?
Querer a um homem casado?
Deixa-te de imaginações,
Que tens o caldo entornado….
Se pensas tu que a amas,
Pensa também no nosso amor.
Vês que a proporção está feita…
Nada de chamar o prior!
Estás muito bem como estás,
E ela melhor ainda,
Que decerto não conseguirá sozinha,
Tratar de coisa tão linda….

Elisa Sampaio
Letargia

Sou flor no parapeito em dia ensolarado,
Sou gato no regaço em dia de borrasca,
Estou entre o sonho e as horas que passam,
Amontoando géneses e termos.
Sou o futuro e o passado
Com pálpebras semiabertas,
Com pálpebras semicerradas,
Combinando a ilusão e os factos.

Momento em que me recrio feto
Em calor ventral germinativo
Tempo de relógio quebrado
Onde desemaranho a consciência.

Elisa Sampaio
Confissões de um passarinho

Eu não sei muito bem o que digo,
Mas o meu canto é muito bonito…

Tudo o que sei és tu que dizes,
Que a mim não me interessam tolices.

Falas em liberdade,
Mas olha que eu,
Não penso lá muito nisso quando voo pelo céu….

Estamos entre a natureza e o olhar
Em que ficcionas o que para mim é ser
Se sou pássaro és tu que o compreendes
Nas asas do que é o teu ver.

Elisa Sampaio
Intimidade

Tira daí o pé porque cheiras a chulé!
Outra vez peixe frito?!
Não há paciência para isto….
A casa toda desarrumada!
Achas que sou tua criada?!
Já viste a conta da água?
Bem podes andar demolhada…
Mas fica juntinho de mim,
(Tira o dedo do nariz!),
Que eu sou tão feliz assim….

Elisa Sampaio

quinta-feira, 21 de julho de 2011

CARTA A MEUS FILHOS Sobre os fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

domingo, 12 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever
ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal
Como tem tempo não tem pressa....

Livros são papéis pintados com tinta,
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca.


Fernando Pessoa.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Humilhação de Philip Roth

Um livro que se lê depressa demais, porque é sucinto, deixando o acessório de parte.
   Roth escreve sobre um actor que se vê confrotando e esvaziado do talento que o levara a uma carreira feliz. O amor que aparece de forma repentina para preencher o vazio da carreira artística, um amor forte que irá acabar como começou. Tudo na vida da personagem principal acabará por morrer...

sábado, 9 de abril de 2011

Soneto a quatro mãos Tudo de amor que existe em mim foi dado Tudo que fala em mim de amor foi dito. Do nada em mim o amor fez o infinito Que por muito tornou-me escravizado. Tão pródigo de amor fiquei coitado Tão fácil para amar fiquei proscrito. Cada voto que fiz ergueu-se em grito Contra o meu próprio dar demasiado. Tenho dado de amor mais que coubesse Nesse meu pobre coração humano Desse eterno amor meu antes não desse. Pois se por tanto dar me fiz engano Melhor fora que desse e recebesse Para viver da vida o amor sem dano. Vinicius de Moraes

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Uma História da Leitura

  «Vou mais uma vez mudar de casa. À minha volta, na poeira secreta de cantos insuspeitos, entretanto revelados pelo arrastar de móveis, empilham-se colunas instáveis de livros, como os penedos esculpidos pelo vento de uma paisagem desértica. Ao erguer pilha atrás de pilha de volumes conhecidos (reconheço alguns pela cor, outras pelo formato, muitos por um pormenor nas capas, cujos títulos tento ler ao contrário ou de um ângulo inadequado), pergunto-me, como de todas as outras vezes, por que motivo guardo tantos livros que sei que não voltarei a ler.»
  Alberto Manguel