quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

Acho tão natural que não se pense



    Acho tão natural que não se pense
     Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
     Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
     Que tem que ver com haver gente que pensa ...

 
     Que pensará o meu muro da minha sombra? 
     Pergunto-me às vezes isto até dar por mim 
     A perguntar-me cousas. . .
     E então desagrado-me, e incomodo-me
     Como se desse por mim com um pé dormente. . .

 
     Que pensará isto de aquilo?
     Nada pensa nada.
     Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
     Se ela a tiver, que a tenha...
     Que me importa isso a mim?
     Se eu pensasse nessas cousas,
     Deixaria de ver as árvores e as plantas
     E deixava de ver a Terra,
     Para ver só os meus pensamentos ...
     Entristecia e ficava às escuras.
     E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu


Alberto Caeiro

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A úa senhora que, estando de mui bom parecer,
contraiu o parentesco de sogra



Quando deixareis vós de ser fermosa,
Minha senhora dona Mariana?
Nunca jamais, se a vista não me engana,
Ou se a fé, mais que a vista, escrupolosa.

Filha vos conheci, e já vi rosa,
Das que se preza abril, maio se ufana,
Que, em vendo essa beleza soberana,
Do prado se acolhia vergonhosa.

Conheci-vos esposa, em igual preço
Invejada das flores. Mas, que importa
Se mãe fostes, com raios semelhantes?

E até sogra, que agora vos conheço,
( contra o que dizem: nem de barro à porta...)
Aposto que inda sois como éreis dantes.


D. Francisco Manuel de Melo
(1608-1666)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Biblioteca já tem àrvore de Natal...