quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Explicação do homem

Tudo tem uma explicação,
Que está tanto em nós como no outro,
E quando pensamos saber todas as respostas,
Descobrimos que não foram as respostas que nos guiaram,
Mas a moral do coração.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O dia em que quis ser perfeita


Um dia acordei às seis da manhã
Para me tornar uma mulher de sonho
E de facto às nove horas estava irrepreensível.
Fui muito bem educada durante todo o dia,
Durante todo o dia fui muito profissional,
E depois quando chegou a noite,
Descobri que era mais feliz,
Não sendo perfeita afinal.
O Valor do Defeito

O que eu mais gosto em ti
São realmente os teus defeitos.
Podia dar-se o caso
De admirar as tuas qualidades
E não suportar os teus defeitos
Ou não suportar não teres defeitos.
Mas assim meu amor,
Dás-me a possibilidade de te repreender,
Dás-me a possibilidade de te perdoar,
E dou comigo,
A admirar-te ainda mais,
Por te permitires ter defeitos,
Apenas para que eu não goste de ti,
Apenas pelas tuas qualidades.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


O Menino Astrónomo

O Menino recebeu um telescópio de presente,
Na verdade não era grande telescópio,
Ou melhor, não era telescópio nenhum,
Porque só conseguia ver a lua e o sol.
Ainda assim, o menino via no seu telescópio,
A origem do bem e do mal,
A virtude e o defeito
O crime e o castigo.
Na verdade o telescópio do menino,
Era o telescópio que ele queria,
Porque era apenas uma criança,
E toda a gente não esperava que ele,
Fosse mais que uma criança.

O Segredo do SOL e da LUA

Mais uma Hora do Conto no mês de Janeiro

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


Prece de um coração bom

Meu Deus, para ser honesto meu Deus,
Não sei se acredito ou não que existes,
E não sei se tudo o que acontece na terra,
Acontece por tua vontade
Ou por vontade dos homens.
Quando vejo uma rosa orvalhada na Primavera,
Não é a beleza da rosa que me transtorna,
Mas o meu sentimento pela rosa,
E por isso Meu Deus,
Se existes, eu sei que não existes que não em mim.
Talvez Meu Deus,
A tua vontade não seja mais que a nossa vontade,
E a vontade dos homens a vontade de Deus.
Ajuda-me por isso Meu Deus,
Que não sei se existes,
A que a tua vontade em mim,
Transforme o mundo à Tua Vontade.

sábado, 26 de janeiro de 2013

http://www.youtube.com/watch?v=_Ok-HW9AuHo


Por Este Rio Acima

Fausto

 
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima
Por este rio acima
Os barcos vão pintados
De muitas pinturas
Descrevem varandas
E os cabelos de Inês
Desenham memórias
Ao longo da água
Bosques enfeitiçados
Soutos laranjeiras
Campinas de trigo
Amores repartidos
Afagam as dores
Quando são sentidos
Monstros adormecidos
Na esfera do fogo
Como nasce a paz
Por este rio acima
Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
isto que é de uns
Também é de outros
Não é mais nem menos
Nascidos foram todos
Do suor da fêmea
Do calor do macho
Aquilo que uns tratam
Não hão-de tratar
Outros de outra coisa
Pois o que vende o fresco
Não vende o salgado
Nem também o seco
Na terra em harmonia
Perfeita e suave
das margens do rio
Por este rio acima
Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem
Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

http://www.youtube.com/watch?v=HoQPQfAjr6M



Que Amor Não Me Engana



Zeca Afonso




Que amor nao me engana

Com a sua brandura

Se da antiga chama

Mal vive a amargura

Duma mancha negra

Duma pedra fria

Que amor nao se entrega

Na noite vazia?

E as vozes embarcam

Num silêncio aflito

Quanto mais se apartam

Mais se ouve o seu grito

Muito à flor das àguas

Noite marinheira



Vem devagarinho

Para a minha beira

Em novas coutadas

Junta de uma hera

Nascem flores vermelhas

Pela Primavera

Assim tu souberas

Irma cotovia

Dizer-me se esperas

Pelo nascer do dia

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O amigo

O amigo é como uma casa,
Uma Igreja onde encontramos Deus,
Uma lareira onde secamos a alma depois do temporal,
Uma cama onde podemos descansar.
O amigo é como uma casa,
Em que a chave é o afecto sincero.

Canto de um amor sincero

Sei sobre ti tudo o que quero saber,
Sei que tens um passado e que tens um futuro,
Mas isso é pouco tempo no mundo,
Porque agora que te encontrei, encontrei a eternidade.

O filtro do olhar

Sexualidade ou pornografia?
Loucura ou genialidade?
Ambição ou arrogância?
Humildade ou resignação?
Ódio ou Amor?
O nosso olhar não nos define apenas como seres humanos,
Mas define o nosso futuro e o de outros.

sábado, 19 de janeiro de 2013

As pessoas estão prontas a viver em bom entendimento, mas não querem ser viciadas em agradar. A condição humana assenta num pressuposto equilibrado: a vida agrada a uns e desagrada a outros. Há uma parte da solidão que não podemos compor, e é melhor que assim seja, porque é na solidão que assenta a diferença tão falada. É isso que se receia: que nos proíbam a solidão, esse pequeno espinho que afinal nos faz solidários na multidão. Observem um grupo de pessoas que ri da mesma anedota: estão abertas a esse prazer do momento, mas não se distraem da faculdade de serem sós na sua fundamental forma de orgulho que é serem únicas. A moral consta duma certa dose de cortesia para parecermos bons. «Só Deus é bom.» Se percebermos esta conclusão, percebemos que imitar o bem é tudo o que humanamente nos é permitido.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Espírito Desfaz a Ordem das Coisas O espírito aprendeu que a beleza nos faz bons, maus, estúpidos ou sedutores. Disseca uma ovelha e um penitente e encontra em ambos humildade e paciência. Analisa uma substância e descobre que, tomada em grandes quantidades, pode ser um veneno, e em pequenas doses, um excitante. Sabe que a mucosa dos lábios tem afinidades com a do intestino, mas também sabe que a humildade desses lábios tem afinidades com a humildade de tudo o que é sagrado. O espírito desfaz a ordem das coisas, dissolve-as e volta a recompô-las de forma diferente. O bem e o mal, o que está em cima e o que está em baixo não são para ele noções de um relativismo céptico, mas termos de uma função, valores que dependem do contexto em que se encontram. Os séculos ensinaram-lhe que os vícios se podem transformar em virtudes e as virtudes em vícios, e conclui que, no essencial, só por inépcia se não consegue fazer de um criminoso um homem útil no tempo de uma vida. Não reconhece nada como lícito ou ilícito, porque tudo pode ter uma qualidade graças à qual um dia participará de um novo e grande sistema. Odeia secretamente como a morte tudo aquilo que se apresenta como se fosse definitivo, os grandes ideais, as grandes leis e a sua pequena marca fossilizada, o carácter acomodado. Nada para ele é fixo, nenhum eu, nenhuma ordem; como os nossos conhecimentos podem mudar todos os dias, não acredita em vínculos, e tudo tem o valor que tem até ao próximo acto da criação, como um rosto para o qual falamos enquanto ele se vai transformando com as palavras. O espírito é, assim, o grande artista da contingência, mas ele próprio não se deixa apanhar, e quase somos levados a crer que a ruína é a única coisa que resta da sua acção. Todo o progresso é um ganho no particular e um desmembramento no todo; é um aumento de poder que desemboca num progressivo aumento de impotência, e contra isto não há nada a fazer.

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades

sábado, 5 de janeiro de 2013

http://www.youtube.com/watch?v=G7JLoOKefvQ


Não Me Compares (part. Alejandro Sanz)

Ivete Sangalo



Agora que gemem mais pálidas nossas memórias,
que a neve no televisor
Agora que chove nas sala e se apagam
as velas do barco que me iluminou
Agora que canta o tempo chorando seus versos
e o mundo enfim despertou
Agora perdido em um silêncio feroz que quer desatar esses nós
Agora enxergamos direito e podemos nos ver por de trás do rancor
Agora te digo de onde venho e dos caminhos que a paixão tomou
Agora o destino é ermo e nos encontramos neste furacão
Agora eu te digo de onde venho e do que é feito o meu coração...
Vengo del aire
Que te secaba a ti la piel, mi amor
Yo soy la calle, donde te lo encontraste a él
No me compares, bajé a la tierra en un pincel por ti
Imperdonable, que yo no me parezco a él
Ni a él, ni a nadie
Ahora que saltan los gatos
Buscando las sobras, maúllas la triste canción
Ahora que tú te has quedao sin palabras
Comparas, comparas, con tanta pasión
Ahora podemos mirarnos
Sin miedo al reflejo en el retrovisor
Ahora te enseño de dónde vengo
Y las heridas que me dejó el amor
Ahora no quiero aspavientos
Tan sólo una charla tranquila entre nos
Si quieres te cuento por qué te quiero
Y si quieres cuento por qué no
Você não sabe por onde andei depois de tudo amor
Eu sou a chave, da porta onde encontraste alguém
Não (No) me compares
Não busque nela o olhar que dei a ti
Imperdoável que eu não seja igual a ela
Então não fale, que alguém te toca como eu toquei
Que se acabe e que tu partas sem saber
E para sempre, ninguém te toca como eu toquei
Que se acabe... yo soy tu alma tu eres me aire!