quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Acho tão natural que não se pense



    Acho tão natural que não se pense
     Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
     Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
     Que tem que ver com haver gente que pensa ...

 
     Que pensará o meu muro da minha sombra? 
     Pergunto-me às vezes isto até dar por mim 
     A perguntar-me cousas. . .
     E então desagrado-me, e incomodo-me
     Como se desse por mim com um pé dormente. . .

 
     Que pensará isto de aquilo?
     Nada pensa nada.
     Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
     Se ela a tiver, que a tenha...
     Que me importa isso a mim?
     Se eu pensasse nessas cousas,
     Deixaria de ver as árvores e as plantas
     E deixava de ver a Terra,
     Para ver só os meus pensamentos ...
     Entristecia e ficava às escuras.
     E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu


Alberto Caeiro