sexta-feira, 10 de julho de 2009

Alguns estados da luz


















El Soplón (El Greco)

Egoísta não é, esta revista. Com grande pena minha, nesta biblioteca existem apenas meia dúzia de exemplares. Além do cuidado na escolha de textos e imagem, um papel excelente. Adoro estes papéis tão agradáveis ao toque, apetece folheá-los. A minha preferida é a número 18, de Março de 2004, dedicada à Luz. Mais luz, toda a matéria é combustível, meninos de luz, luzia e este texto de António Mega Ferreira.


«Vou supor que estão familiarizados com as propriedades da luz em circunstâncias do dia-a-dia, tais como: a luz viaja em linha recta; desvia-se quando entra na água; quando é reflectida por uma superfície como um espelho, o ângulo sob o qual a luz atinge a superfície é igual ao ângulo sob o qual a deixa; pode ser separada em cores; vêem-se cores lindas numa poça de lama quando esta tem um pouco de óleo; uma lente foca a luz; etc. Servir-me-ei destes fenómenos a que estão habituados para ilustrar o verdadeiro comportamento estranho da luz...»

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Then sing, ye Birds, sing, sing a joyous song!
And let the young Lambs bound
As to the tabor's sound!
We in thought will join your throng,
Ye that pipe and ye that play,
Ye that through your hearts to-day
Feel the gladness of the May!
What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.


Intimations of Immortality From Recollections of Erly Childhood, de William Wordsworth

É diferente. E depois?



António Orlando Rodríguez, através da sua escrita desmistifica a diferença, quando no seu romance «Chiquita», empreendeu a tarefa de escrever a história verdadeira de Espiridiona Cenda, uma liliputiana atrevida com a vida, uma sedutora, que se tornou numa celebridade dos teatros de vaudeville.

«Ela é muito...demasiado...pequenina - apressou-se a responder Minga, ao reparar que a sua patroa perdera novamente a fala.
O negro Congo deu uma gargalhada e retorquiu que no mundo, para que fosse mundo, tinha de haver de tudo: pessoas grandes, pessoas pequeninas e pessoas ainda mais pequeninas...»

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sobre a interpretação

Ao debruçarmo-nos sobre o visível podemos recolher a imagem que nos foi exposta na palavra de outrem. No entanto, a análise da imagem é subjectiva e distinta! A adaptação interpretativa apenas se processa pela pertença a uma comunidade linguístico-cultural ou pela inferência resultante das premissas anteriormente conhecidas durante o processo de comunicação. Na escrita é relativamente fácil recordarmo-nos de um livro que começamos a ler e que pela dificuldade de reconhecimento do implícito, perdemos a vontade de ler. Essa é uma característica que o leitor deve ultrapassar pela vontade de conhecer, pois as inferências que vai fazendo ao longo do texto serão importantes para a compreensão do início do livro. Alguns autores chamam-lhes pontos de referência, que nos colocam na vivência dos personagens e no estilo da narrativa.

A interpretação que se faz de um texto dá-nos a noção de conhecermos algo de novo que é difícil de partilhar por ser tão próprio, tão… secreto. E quando se fala sobre essa vivência “percebe-se que todas as bibliotecas íntimas têm uma zona de intersecção. Então é outra coisa: é o amor que nasce da leitura. Amo-te, gostamos dos mesmos livros, gostamos um do outro no livro” (Barthes e Mauriés, em Enciclopédia Eunaudi).

A vida é um assimilar de experiências…

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Um tesouro


















Recebi há alguns anos este livro, que tenho vindo a reler recentemente com muita frequência. Foi-me oferecido em circunstâncias muito especiais e cada vez mais me convenço que os livros, bem como as outras coisas, vêm ter connosco.
O Estúdio de Alberto Giacometti de Jean Genet foi reeditado em 1999 pela Assírio e Alvim e é o número 3 numa colecção que se chama Alfinete. Muito apropriado. Os mais saudosos ficarão contentes quando, ao abrir o livro encontrarem as palavras de Al Berto. Outras palavras ainda: solidão das coisas, ferida original, refúgio dos seres, movimento, esqueleto, nudez dos objectos.


«Tive medo quando bruscamente apareceu Osíris – o nicho cortado à face, rente à parede – sob luz verde. E foram os meus olhos os primeiros a aperceber-se? Não. Antes tinham sido ombros e a nuca, esmagada por uma mão, ou massa , obrigando-me ao mergulho dos milénios egípcios, a curvar-me mentalmente, e até encolher-me, diante dessa pequena estátua com sorriso e olhar severos. Estava ali um deus. O deus do inexorável. (Claro que me refiro à estátua de Osíris em pé, na cripta do Louvre.) Tive medo porque sem sombra de dúvida tinha ali um deus. Certas estátuas de Giacometti provocam em mim emoções muito próximas deste terror, e idêntico fascínio.
Mas despertam um curioso sentimento: são-me familiares, cruzam-se comigo na rua. Ora elas vêm do fim dos tempos, do princípio de tudo, e não cessam de vir ou recuar com soberana imobilidade. Se os meus olhos tentam aprisioná-las, aproximar-se, elas – sem fúria nem cólera nem ira, apenas pela distância entre nós, que eu ainda não notara, de tal modo reduzida e escassa, a ponto de as julgar ali mesmo – afastam-se a perder de vista: desdobra-se subitamente a distância. Para onde vão? Embora a sua imagem continue visível, onde estão elas?»