O uso da palavra é uma arte, a arte do sonho, do sentimento, da emoção, da reconciliação… uma arte relegada para o romântico pela exaltação das emoções, pelo engano dos sentidos que promove uma onda inebriante e leva as massas a um êxtase ilusório... a formatação do sentir é por vezes tão forte que nos nega a interpretação acreditada nos próprios sentidos. E não será a procura da razão que peja os nossos sentidos e nos faz navegar num vazio temeroso na procura da inteligibilidade o que nos ludibria?
Ao lugar do “poético” apenas a ficção, e por isso leio, cavalgando numa odisseia quixotesca ou num qualquer mundo de Alice e estudo as razões da ausência desse lugar, que apesar da brisa de um vulto elegante, está ainda afastado da realidade vivencial. Pelo menos traria consigo o conceito de belo, de etéreo… a poesia, num dos conhecidos sonetos de Luís de Camões.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas da lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, emfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não muda já como soía*.
* usualmente
Luís Vaz de Camões (1595 pm)
A sociedade evolui, o sentimento é perene…