segunda-feira, 11 de maio de 2009

A presença do Papa em Israel, com a natural profusão dos media em notícias e comentários, fez-me recordar um livro que li da nossa biblioteca, há poucos meses.
Esse livro é uma conferência de Gunter Grass e intitula-se "Escrever depois de Auschwitz".
Aqui, este nobel da literatura, disserta acerca de como uma flor pode nascer onde tudo é cinza.
O mundo tornou-se cinza depois do Holocausto para toda a humanidade, incrédula da capacidade de horror, personificada pelos alemães.
Fazer nascer uma flor onde na razão só há lugar para a culpa e recriminação, na personificação dos poetas alemães, é a grande questão deste autor, que explica a capacidade de olhar o mundo apesar de tudo com a sensibilidade de um artista, como o verdadeiro triunfo da humanidade contra a barbarie.
Este é um livro que trata da superação da culpa, não por qualquer explicação racional do horror praticado, mas pela chama de humanismo e beleza capaz de florescer em qualquer homem.
Este livro levanta questões interessantes da actualidade e da vida comum, na forma como olhamos os outros.
Na verdade, para mim parece-me tão natural não perdoar no sentido de marcar uma posição perante a realidade pessoal, como admitir que um erro grosseiro contra nós particularmente, não define além do nosso contexto alguém que o praticou, o que liberta qualquer homem de um sentimento de vingança.
Por outro lado, apesar de a experiência nos dizer que geralmente as pessoas são reincidentes nos seus comportamentos, o exemplo dos poetas alemães do pós-guerra, serve-nos de mote à esperança, o que é particularmente importante em relação a pessoas estigmatizadas socialmente, como reclusos, toxidependentes, prostitutas, e um sem número de contextos sociais que invariavelmente excluímos do nosso círculo de convivência, perpetuando a exclusão social de muitas pessoas.
Este é um livro muito interessante de ler, que nos leva a questões importantes da nossa vida quotidiana e perspectiva social.
Aqui fica a sugestão!