domingo, 3 de maio de 2009

O meu Livro, o meu Escritor




Como leitora e consumidora exaustiva de livros, de letras, de recenções literárias, com cerca de 30 anos de leituras, com períodos de interrupção, devido a algumas decepções literárias e imposições de leituras, que me afastaram dos livros durante algum tempo.
Regressei, após o período de adolescência e aqui estou eu, depois de um percurso de altos e baixos, a escrever sobre meus gostos literários. Como tenho que eleger um livro, para esta biblioteca pessoal e partilhá-lo nesta estante verde, optei pelo Dom de Vladimir Nabokov, por várias razões: é um livro brilhante, que nos prepara para ser muito mais exigentes com os outros escritores, porque Nabokov, tem esse Dom, o de nos fazer pensar, o de nos fazer voltar a página, chegando sempre à conclusão, que Nabokov, gostava de brincar com os seus leitores, de os fazer desesperar com a sua narrativa complexa, e depois, dava entrevistas maravilhosas, a que respondia por escrito, baralhando todas as minhas conclusões optimista. Nabokov, era um Homem poderoso, que assombra a minha vida de tal forma, que muitas vezes penso, tal como o historiador amigo de Calvino.
Transcrições:
(Nabokov, 2004, p. 189) "Fedor tivera tempo para guardar apenas os cobertores e os lençóis do sofá-cama antes de chegar um explicando, o filho de um dentista emigrado, um jovem pálido e gordo de óculos de aros grossos e caneta na bolsa do peito. Frequentando um liceu de Berlim, o coitado do rapaz estava tão embebido nos costumes locais que mesmo em inglês dava os mesmos erros impossíveis de erradicar em qualquer alemão de cabeça de alfinete. Por exemplo, força nenhuma deste mundo poderia impedi-lo de utilizar o pretérito composto em vez do pretérito simples, e isto dava a cada uma das suas actividades acidentais do dia anterior uma espécie de permanência idiota. Utilizava com uma obstinação semelhante o also (também) inglês da mesma maneira que o also (assim) alemão e ao vencer a espinhosa terminação da palavra clothes (roupa), invariavelmente acrescentava uma supérflua sílaba sibilante (clothes-zes) como se derrapasse depois de vencer um obstáculo. Ao mesmo tempo, exprimia-se bastante livremente em inglês e queria a ajuda dum explicador apenas porque queria ter a nota mais alta no exame final. Era presumido, discursivo, obtuso e duma ignorância tipicamente alemã; isto é, tratava com cepticismo tudo o que não conhecia. Firmemente convencido de que o lado humorístico das coisas fora há muito resolvido no lugar que lhe era próprio (a última página dum seminário ilustrado berlinense), nunca ria, ou limitava-se a um risinho silencioso de condescendência. A única coisa que quase o conseguia divertir eram histórias sobre operações engenhosas. Toda a sua filosofia de vida se reduzia a uma simples preposição: o homem pobre é infeliz, o homem rico é feliz. Esta felicidade legalizada era alegremente construída com acompanhamento de música de dança de primeira qualidade a jorrar de diversos artigos de luxo técnico".